Por: Anderson Frota
Essa foi, provavelmente, a mais bem sucedida troca de vocalista da história do Heavy Metal! Iron Maiden, AC/DC e Black Sabbath conseguiram fazer bem essa transição mas, em todos os casos, houve alguma alteração, mesmo que discreta, no som da banda. O Accept, porém, continuou 100% Accept. E, mérito maior, Mark Tornillo não é um clone ou imitador de Udo Dirkschneider. O sujeito tem seu próprio timbre que - e assim teria que ser - é o adequado para as músicas do Accept. A banda sabiamente evitou os equívocos de, ou inserir alguém radicalmente idêntico, o que geraria estagnação e comparações infinitas, ou apostar em alguém com características de voz por demais diferente, o que desfiguraria a personalidade do conjunto. Acertaram no ponto!
Mudanças de vocalista são geralmente as mais traumáticas e eu mesmo sou daqueles relutantes em aceitá-las pois, na maioria dos casos, é a voz que traz a identidade da banda e faz com que eu tenha ou não interesse pela mesma. O êxito dessa nova encarnação do Accept foi facilitado pelo fato deles terem surgido com um disco absolutamente matador. Uma coleção fantástica de novos clássicos. Um álbum que, de certa forma, comprova que bandas não tem necessariamente prazo de validade. O que existe de fato é a inspiração ou a falta dela.
Quem esperava que o Accept, a essa altura do campeonato, depois de tantas conturbações, conceberia um de seus melhores trabalhos, ficando em pé de igualdade com os clássicos lançados na década de 80? Blood of the Nations é o tipo de disco que, sendo tocado na íntegra, garante a qualidade do show e a satisfação do público! Eu queria poder listar algumas músicas, apontando-as como os destaques, mas quais??? A nova configuração de compositores do grupo jogou uma cartada definitiva em sua reentrada no cenário. Tudo está lá, todos os detalhes que nos fazem amar o Accept estão no disco,inclusive os onipresentes coros, executados daquela maneira que apenas eles conseguem fazer. No Shelter, Pandemic e Teutonic Terror são as faixas que ainda continuam no setlist, nos palcos ao redor do mundo, e merecem permanecer lá. Se não houvesse tanta música boa pra escolher, talvez pudessem também manter a balada Kill The Pain, onde Wolf Hoffman soa um pouco como Uli Jon Roth fazia em sua época de Scorpions.
Sobre Wolf, aliás, não há muito que eu possa falar. Ficar melhor à medida que envelhece não é um chavão, é um privilégio, é um reflexo de como o músico enxerga o que fez em sua carreira e o que ainda pode fazer. Peter Baltes, por outro lado, é um caso à parte. Ele não é o tipo de músico chegado a pirotecnias, mas quanto talento tem em suas linhas! Um baixista muito acima da média! Na única oportunidade em que tive de assistir o Accept ao vivo, a banda veio desfalcada do guitarrista Herman Frank, por motivos de saúde. A música do Accept é feita para duas guitarras e funciona melhor assim, mas – desculpe por isso, Herman – a ausência da guitarra base, naquele show, não foi sentida. E o mérito absoluto é de Peter, que segurou o ritmo com uma tranquilidade absurda. Uma simpatia, uma postura de palco tão segura que contrasta com as trovoadas emitidas pelo seu contrabaixo.
Lá no passado, quando Udo retornou para a banda em 1992, lançaram um ótimo disco, Objection Overruled, que deu início a uma sequência de três álbuns com as capas em cores predominantemente pretas. A empolgação inicial, porém, foi decaindo até o lançamento
do meio apático Predator, que marcou a segunda saída de Udo. Em sua nova e atual fase, já saíram também três discos, agora com as capas evidenciando os tons vermelhos, e a qualidade permanece constante. O vermelho das capas deve fazer referência à nossa conhecida expressão “sangue nos olhos”, pois é isso que a banda vem demonstrando. A formação atual não vai sobrepujar a importância histórica da formação clássica, obviamente, mas os músicos parecem estar se divertindo, e os fãs estão sendo beneficiados pelo atual momento, com uma de suas bandas preferidas não apenas viva, mas relevante! Que continue assim!
Formação:
Mark Tornillo - voz
Wolf Hoffmann - guitarra
Herman Frank - guitarra
Peter Baltes - baixo
Stefan Schwarzmann - bateria
Abaixo temos os dois clipes produzidos para o álbum:
Accept - Blood Of The Nations
(2010 - Nuclear Blast Records / Laser Company Records - nacional)
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